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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Ingrid Betancourt e as Olimpíadas de Pequim


Por Humberto Carvalho Jr.

O “resgate” da ex-senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt e outros 14 reféns está entre as piores lendas que já se ouviu neste pedaço de século. A inacreditável operação perfeita do Exército colombiano, no melhor estilo Rambo, ficou ainda mais inverossímil depois que a principal emissora pública francófona, a Radio Suisse Romande (RSR), sustentando-se em uma “fonte segura”, afirmou que membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) receberam cerca de 20 milhões de dólares para libertar os reféns. Ainda mais patética que a encenação do resgate foi a resposta da ex-refém: "De acordo com o que vi durante a operação - e sinceramente não me considero uma pessoa fácil de enganar - não acredito que tenha havido uma encenação”.

Como normalmente em situações semelhantes, as operações são filmadas em detalhes – conforme ocorreu no ataque, em 1º de março que resultou na morte de Raul Reyes, conhecido como o segundo homem das Farc, e na violação do território equatoriano –, a RSR questiona “porque não foi difundido nenhum vídeo, dado que a operação foi um êxito”. O governo colombiano continua negando o pagamento do resgate, mantendo a versão quixotesca.

Considerando, logicamente, a latente aptidão para a elaboração de narrativas de ficção, Ingrid, apesar dos maus-tratos que afirma ter sofrido durante os últimos seis anos em que passou no acampamento das Farc, revelou-se uma verdadeira atleta. Não somente pelos aspectos físicos, com sua face gorda e corada, mas pela sua atuação poucos dias após sua “libertação”. O que ela diria, sem dúvidas, que fez por merecer. E Seus amigos não a deixam mentir. Segundo Luis Eladio Perez, também ex-refém das Farc, libertado no início do ano, ambos tentaram fugir para o Brasil a nado (excesso de autoconfiança ou ignorância mesmo).

Afirmo com tranqüilidade que qualquer maratonista já teria perdido o fôlego se tentasse acompanhar a ex-senadora. Em seu primeiro dia de liberdade, sua primeira libertinagem foi apoiar o terceiro mandato de Álvaro Uribe. No dia seguinte, recomendou ao presidente equatoriano, Rafael Correa, que esquecesse antigas zangas e trabalhasse pela paz na região. Disse, dois dias depois, que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, é imprescindível para um diálogo com as Farc. Na terça-feira (8/7), ela afirmou que “é preciso conversar até com as pessoas que odiamos”. Na última quinta-feira (10/7), Ingrid contou que se emocionou ao ouvir os jogos da copa por um rádio de pilhas, e que adorou a cabeçada que o Zidane desferiu em Materazzi, o que lhe rendeu uma camisa autografada pelo ex-atacante da seleção francesa de futebol. Ao final, certamente como recompensa de seu desempenho e honestidade, a ex-refém ganhou a medalha da Legião da Honra.

Urff!!! No início desta semana ela, felizmente, declarou que precisa descansar.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Caetano, Bethânia, Cuba e Fidel: o encontro da música com a política

Por Bruno Carvalho*


Depois de escrever música sobre a Base de Guantanamo mantida pelos norte-americanos, Caetano, solenemente, agradece à Suprema Corte dos Eua, afirmando: “Eu quero agradecer à Corte Suprema dos Estados Unidos da América por ter prestado atenção nesta canção”. Caê se refere, de certo, às concessões feitas pela Corte de que os prisioneiros de Guantánamo pudessem ter concedido seus Habeas Copus. Parece que se desculpa com o Império. Veloso disse que não pediu desculpas, mas é tudo muito velado. Faz bem Caetano, se não pode com o inimigo junte-se a ele, diz o ditado.

Sua mãe, uma velha carlista que fora elevada ao status de matriarca, uma espécie de rainha, do recôncavo baiano, parece ter-lhes (a ele e à sua irmã, Maria Bethânia) influenciado bastante no terreno da política. Quando da morte do velho inquisidor baiano, cujo nome não preciso escrever, Bethânia disse: “A política perdeu seu charme”. Bethânia, quando da violação do painel eletrônico do Senado pelo Toninho Malvadeza, assinou um “manifesto” junto a outros artistas baianos, do calibre de Marcia Shot, Ivete Sangalo, Xandy, Carla Perez e Beto Jamaica, no qual demonstravam publicamente o seu apoio ao ex-governador biônico da Bahia.

Caê prefere aos Eua que à Cuba em matéria de direitos humanos! Os direitos humanos nos Estados Unidos da América, muito a humanidade tem de se orgulhar. Quando da Segunda Guerra, e tendo o Japão já concretamente derrotado, os Eua mandaram um aviso para os soviéticos: a bomba atômica que descia sobre Hiroshima e Nagasaki. O aviso dizia mais ou menos: Ei! Nós temos a Bomba, não ousem tentar espalhar por aí o tal do comunismo. Mas consideremos o Estado cubano uma ditadura. E consideremos todas as ditaduras juntas duma só vez. Alguma delas se compara ao extermínio de duas cidades inteiras a um só golpe? Alguma delas se compara ao napalm, o agente laranja, lançados sobre os vietnamitas? E aos milhares de desaparecidos no Chile, na ditadura pinochetiana, assessorada econômica e politicamente pelos Eua? E o exército racista da África do Sul apoiado pelos norte-americanos? Guatemala? Honduras? Porto Rico? Iraque? Afeganistão? As agressões do lacaio governo de Israel contra o Líbano? Abu Graib? Ei, alguém lembra? Mas Caetano nos diz, que neste ponto (o dos direitos humanos), ele está do lado dos Eua. Sei que ninguém se importa, mas eu fico com Cuba.

Enquanto o nosso país democrático, o presidente abraça o Bush e o Caetano, se precisar presta as condolências à Condoleeza, jovens são entregues pelo Exército brasileiro ao tráfico, nossas tropas estão no Haiti, assassinando sindicalistas, trabalhadores, os pobres da favela de Batay Ouvriye.

Caetano é daqueles que um dia lutaram contra a ditadura no Brasil, e podemos dizer que têm um “passado enorme pela frente”. E se o cantor pode se gloriar de ter lutado contra a ditadura no Brasil, hoje nos parece claro, que a liberdade que pleiteava era a liberdade de cantar suas músicas e não a liberdade dos brasileiros. Por motivo bem menos importante, Luana Piovani chamara Caetano de “Banana de Pijama”, não posso deixar de concordar com a atriz. Ah! Caetano... na sua música você diz: “O fato de os americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar”. Permita parafraseá-lo: “O fato de Caetano desconhecer os direitos humanos em solo norte-americano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar”.

Eu sei Caetano, na década de 60 e 70 era mais fácil ser pró-Cuba, tava na moda, mas veja, nem todos precisaram se curvar ao Império como você o faz. Suas canções são belíssimas. Caetano, me alegro em ouví-las, mas tem um homem, que diz que canta mal, e que eu gosto mais: ele se chama Chico Buarque. E sabe porque Chico, Caê? Não sabe? Eu te conto: Chico é moralmente tão grande quanto as canções que compõe. Chico não se curvou, Caê. Já você...

Betânia diz que não vai à Cuba, o país “ainda é uma ditadura”. Mas se Omara cantou ao lado de uma carlista que mal lhe faria à Bethânia ir à Cuba. A artista referida ganha muito em seus caríssimos shows, e eu nunca consegui comprar nem a fileira mais barata, porque achava (e ainda acho) um crime o preço de seu show. Em Cuba, não seriam tantas cifras, não é mesmo, Bety? Sendo assim, que mal haveria em não tocar e ainda fazer disto um fato político?

E se Bethânia não quis ir à Cuba, fez bem. Desta vez foi Bethânia que censurou aos cubanos. Ela talvez sofresse a censura, não do Fidel ou do Raul, mas dos cubanos em forma de uma uníssona e sonora vaia.

Ah! Omara, como é bom te ouvir cantar em solo, ou em duetos como os que fez com Barbarito Torres e Ibrahim Ferrer...

Vida longa ao povo cubano! Povo que não se curva diante do acosso do Império e de seus ideólogos que o representam, aos quais se unem Caê e Bety.

Caê, Bety, Canô, vão todos para o infer... quero dizer: para os Estados Unidos da América.

* Bruno Carvalho é psicólogo.