Por Humberto Carvalho Jr.

Com duas frases curtas e simples, conforme manda o receituário do telejornalismo asséptico, o galã de cabelos precocemente grisalhos, comandante do principal noticiário do império de comunicação da família Marinho, ignora a história recente da Venezuela e reforça a imagem de um Chávez ditador (video aqui).
É ainda o mesmo modelo de jornalismo imparcial, objetivo e plural que, deliberadamente, ignorou o golpe militar contra o governo Chávez, em 12 de abril de 2002, na Venezuela.
No artigo “O golpe de Estado e o noticiário”, publicado no website do Observatório da Imprensa, Ivo Lucchesi faz uma análise bastante lúcida da cobertura jornalística dos meios de comunicação brasileiros acerca do golpe:
A "grande" imprensa, cujo olhar parece insistir em ser "pequeno", sob os ditames da Nova Ordem Mundial, submeteu-se a mais um "teste de fidelidade": quanto resistirá a "camisa-de-força"? O noticiário inicial abusou na relutância em respeitar a ferramenta básica da informação: a objetividade. O ocorrido na Venezuela não poderia, jornalisticamente, merecer outra manchete, diferente de "Golpe de Estado na Venezuela". No entanto, a "grande" imprensa brasileira preferiu, uma vez mais, "romancear" o acontecimento, estampando chamadas como: "Venezuela se une e depõe Chávez", acrescida da seguinte linha-fina: "Presidente cai em meio a protesto de milhares de manifestantes e rebelião de militares" (Jornal do Brasil, 12/4/02). No mesmo exemplar, em página interna, a chamada era: "Generais forçam renúncia de Chávez". É flagrante a disjunção semântica entre os dois enunciados. No primeiro, revitaliza-se o antigo slogan "a união faz a força"; no segundo, pode-se deduzir o oposto, "a força faz a união". Ou não?
Estaremos diante de um fato a atestar incompetência jornalística ou manipulação da informação? Em edição de 13/4, a manchete da Folha de S. Paulo destacava: "Militares depõem Chávez; civil toma posse e dissolve poderes". Na mesma data, o Jornal do Brasil noticiava: "Militares prendem Chávez, fecham Congresso e assumem poder no país". Afinal, quem, nesse pífio enredo, fez o quê? E mais: quem, nessa trama de folhetim barato e surrado, tem poder real? Essa é a pergunta a provocar os limitados redutos da informação. Fora daí, é mais uma "fofoca palaciana" (leia na íntegra aqui).
O contexto deixado de lado (quanta generosidade!) pelas grandes empresas de comunicação do Brasil nada tem a ver com incompetência profissional dos que apuraram o fato. Não são distorções involuntárias ocasionadas pelas rotinas de produção jornalísticas. Trata-se de claras tentativas de apagar as semelhanças com a mídia Venezuelana, co-autora do golpe de 2002, contra o governo Chávez.
O documentário The Revolution Will Not Be Televised (A revolução não será televisionada), produzido pelos irlandeses Kim Bartley e Donnacha O'Briain, mostra como a mídia venezuelana contribuiu para a realização do golpe, manipulando as informações.
Conforme relatam no filme, os cineastas estavam no país para fazer um filme sobre o presidente Chávez e o governo bolivariano, quando foram surpreendidos pelos acontecimentos que culminaram no golpe. O vídeo revela de maneira as espúrias relaçõesd a grande mídia com a elite econômica, militares dissidentes e a articulação dos EUA na manipulação dos fatos.
Assista ao vídeo, abaixo, e descubra o que a imprensa gorda de nosso país tenta nos esconder.
Agora, depois de assistir ao documentário, você percebeu que não há coincidências. Só semelhanças.
Em países como o nosso, tanto os meios de produção material como os simbólicos pertencem à elite econômica. E, obviamente, a elite usa das ferramentas que possui para manter o status quo ou fazer com que o povo aceite o seu modelo de democracia.
Em países como o nosso, tanto os meios de produção material como os simbólicos pertencem à elite econômica. E, obviamente, a elite usa das ferramentas que possui para manter o status quo ou fazer com que o povo aceite o seu modelo de democracia.
Os meios de comunicação de massa são, agora mais do que nunca, armas político-ideológica em defesa dos princípios neoliberais. Em detrimento do dever de informar a sociedade, prevalecem os interesses de classe, os anseios dos patrões, dos anunciantes.
Isso certamente explica o comportamento agressivo da mídia, sobretudo neste período de crise do capitalismo, quando o sistema que permite a sua existência nesses moldes revela-se falido ou em iminente perigo.
Apesar de se apresentar como a grande defensora da liberdade, a imprensa comercial sempre tenta privar a sociedade de debates que objetivem a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Poderíamos dar diversos exemplos, porém o Programa Nacional de Direitos Humanos é o bastante. Antes mesmo de concretizar qualquer das propostas objetivadas no documento, PNDH-3 do ministro Vannuchi, Secretaria Especial de Direitos Humanos, já saiu vitorioso. O projeto conseguiu unir a mídia, religiosos, ruralistas e militares, obviamente que contra o projeto.
Muitos itens do programa aterrorizam as entidades patronais de comunicação, mas a diretriz 22, primeira iniciativa concreta do Estado para regulamentar o artigo 221 da Constituição de 1988 desde a sua promulgação, propõe punições, como suspenção da programação e publicidade, para os veículos que desrespeitarem o artigo.
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisãoatenderão aos seguintes princípios:I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produçãoindependente que objetive sua divulgação;III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística,conforme percentuais estabelecidos em lei;IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
Sobre o PNDH-3 sugiro a leitura do artigo Quem perde é a democracia, do teórico e articulista Venício Artur de Lima, publicado no website da Agência Carta Maior (clique aqui). O teórico mostra como a mídia tem agido ultimamente para minar as possibilidades de concretizar uma verdadeira democracia no Brasil.
Ele lembra que imprensa brasileira tem se colocado acima das leis, recusando-se a debater, além de boicotar conferências, distorcer e omitir informações e satanizar movimentos e grupos políticos que não compartilham seus interesses.