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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Correa e Odebrecht: uma aula para a América Latina

Por Humberto Carvalho Jr.


O presidente do Equador, Rafael Correa, embargou bens da construtora Odebrecht, nesta terça-feira 23, acusando-a de ter concluído obras com "um terço de capacidade e o triplo de custo" (novidade!). Mediante decreto, o presidente equatoriano ordenou, ainda, a ocupação das obras da empresa pelo Exército e proibiu que funcionários da companhia deixem o país.

O governo equatoriano exige o pagamento de uma indenização de US$ 12 milhões pela paralisação da central hidrelétrica San Francisco, construída pela empreiteira brasileira.  Responsável por cerca de 12% do fornecimento de energia no país, a central hidrelétrica está paralisada por falhas no funcionamento desde 6 de junho, cerca de um ano após sua inauguração, colocando em risco o abastecimento de energia no Equador.

“Estou 'por aqui' com a Odebrecht, quanto mais cavo mais lama encontro (...) Estes senhores (da construtora) foram corruptos e corruptores, compraram funcionários do Estado. O que está sendo feito é um assalto ao país”, afirmou Correa, segundo a BBC Brasil.

O comentário do presidente equatoriano soa absurdo à “grande imprensa”, evidentemente, devido ao seu interesse em perpetuar o hábito nacional de facilitar o lucro desmedido dos grandes empresários, sobretudo das construtoras, maiores financiadoras de campanhas eleitorais por motivos óbvios. Acostumada com os afagos dos políticos brasileiros que “roubam, mas fazem”, a Odebreht está gozando o desconforto de seu primeiro puxão de orelha.

Embora veículos da “grande imprensa” brasileira, assim como no capítulo entre a Petrobrás e a Bolívia, anunciem uma “crise bilateral” ao comentar o caso, o bom relacionamento entre os países, ao menos aparentemente, mantém-se normal. De acordo com a ministra das Relações Exteriores do Equador, Maria Isabel Salvador, trata-se de uma situação entre uma empresa privada com o Estado equatoriano. “De nenhuma maneira essa situação afeta as excelentes relações bilaterais que mantemos com o Brasil e com seu governo, com quem temos áreas muito importantes de colaboração em muitos temas”, ressaltou a ministra.

A mídia nativa ficou ainda mais inquieta quando Correa ameaçou não pagar um empréstimo de US$ 243 milhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) obtido por meio da construtora. De acordo com informações do website equatoriano EcuadorInmediat, Correa afirmou que “(o empréstimo) possui graves irregularidades, porque é dinheiro que nem sequer entra no país, é dinheiro que lá (no Brasil) é contabilizado como empréstimo interno, e na verdade foi dado à empresa, mas aparece como dívida”.

Enquanto o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, discursa para acalmar a mídia, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, nesta quinta-feira (25), ajudou a esclarecer o imbróglio. “O empréstimo foi feito para a Odebrecht, e não para o governo equatoriano”, encerra Dilma, confirmando argumento de Correa.

Enquanto o presidente Lula aguarda o telefonema de Rafael Correa, este ensina às outras nações, inclusive ao Brasil, como lidar com empresas do perfil da Odebrecht.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bem, Humberto! Perfeito!!! Precisamos proliferar e atuar na "contra-mídia" para esclarecer os fatos. Façamos jornalismo, como vc tem feito. A propósito, agora vejo os próceres da defesa do estado diminuto, arautos das desregulações dos mercados, baixarem as cabeças depois que a "crise" - que eles mesmos provocaram e agora se colocam como vítimas - estourou. Não vi, por exemplo, a "procuradora" da República Miriam Leitão falar que o neoliberalismo falhou. Como bem afirma José Arbex, "imprensa canalha!". Um abraço, Humberto, e parabéns pelo bom jornalismo que pratica.