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terça-feira, 10 de março de 2009

Folha de S. Paulo é obrigada a desistir de "ditabranda"

Por Humberto Carvalho Jr.


Esta semana, a blogosfera mostrou sua força como mídia alternativa, denunciando as relações espúrias da Folha de S. Paulo com o regime ditatorial brasileiro. Após manifestação promovida pelo Movimento dos Sem Mídia neste sábado (7), e do abaixo-assinado com mais de 7 mil assinaturas repudiando o editorial “Limite a Chávez, publicado em 17 de fevereiro, o diário paulista foi obrigado admitir a irresponsabilidade no uso da expressão “ditabranda” ao referir-se à ditadura militar brasileira, embora tenha mantido as ofensas aos professores Maria Vitória Benevides e Fabio Konder Comparato.

A Folha teria sido mais feliz em outros tempos, quando a internet ainda não havia se caracterizado como um veículo com tamanho potencial de descentralização da informação. Jornalistas insatisfeitos com a forma elitista e estouvada como a grande imprensa aborda os fatos e leitores mais atentos fizeram dos blogues um importante meio alternativo para disseminação de (contra)informação. Ao refutar e (ou) analisar o conteúdo publicado pela mídia corporativa, a blogosfera tem tirado o sono dos donos e dirigentes das grandes empresas de comunicação.

"Isso mostra como nós podemos usar a internet e os blogs decentes como alternativa concreta, real e perfeitamente viável para nos desvincularmos dos jornalões, da imprensa de rabo preso", analisou a professora Benevides.

Acostumada à cordialidade morena, a Folha foi surpreendida pelas ácidas críticas dos blogueiros e, encurralada como a ditadura (só para lembrar o mesmo Elio Gaspari citado pelo Otavinho), vestiu a fantasia rasgada depois de ter dançado nua a noite inteira. Cerca de 400 pessoas participaram do ato em repúdio a utilização do termo “ditabranda” e em solidariedade aos professores ofendidos pelo jornal paulista.

Abaixo, assista ao vídeo do discurso do jornalista e ex-preso político Ivan Seixas na manifestação em frente à sede da Folha. Preso e torturado juntamente com seu pai, Joaquim Alencar de Seixas, o jornalista enviou cartas de protesto ao jornal, porém nenhuma foi publicada.

“A imprensa brasileira nos estupra psicologicamente”, disse o padre Júlio Lancelotti. Veja o vídeo abaixo. Leia, também, a entrevista concedida ao website Vermelho.

Na edição de domingo (8), Otavio Frias Filho, o diretor de Redação da Folha, publicou a seguinte nota:

"O uso da expressão "ditabranda" em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis.

Do ponto de vista histórico, porém, é um fato que a ditadura militar brasileira, com toda a sua truculência, foi menos repressiva que as congêneres argentina, uruguaia e chilena -ou que a ditadura cubana, de esquerda.

A nota publicada juntamente com as mensagens dos professores Comparato e Benevides na edição de 20 de fevereiro reagiu com rispidez a uma imprecação ríspida: que os responsáveis pelo editorial fossem forçados, "de joelhos", a uma autocrítica em praça pública.

Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam."

Muito bem colocado por Seixas, “Otavinho orgulhou o pai, Otavião”. Ele admite o erro quanto ao termo “ditabranda”, mas reitera as ofensas contra Benevides e Comparato, anteriormente chamados de cínicos. Cinismo?! Um jornal como a Folha de S. Paulo, que emprestou carros de sua redação para os torturadores, entregou seus jornalistas que se opunham ao regime e teceu elogios a Garrastazú Médice, ainda se acha no direito de criar os níveis de classificação para as ditaduras. Quem não ignora a história sabe quem são os verdadeiros cínicos.

Embora seja óbvio que a mídia gorda não deixará de fazer propaganda política em prol da direita, ou do neoliberalismo (se é que isso faz alguma diferença para o leitor), o episódio talvez sirva de exemplo para o setor notar que não será tão fácil ignorar as vozes dissidentes. No mínimo, entenderam que o seu poder de manipulação tem limites cada vez mais demarcados.

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