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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Política com confetes

Por Humberto Carvalho Jr.

Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval!”. O trecho da música Linha de Passe (1979), composição de João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, revela-se bastante oportuno neste momento, quando o carnaval ganha as ruas da capital baiana, nesta quinta-feira (11).

O verso revela como os problemas sociais são habitualmente abafados pelas festas populares, e especialmente durante as comemorações momescas .

Carnaval é tempo em que a cuíca toca em tom maior, acompanhada do batuque ensurdecedor de tambores e marcações de pancada grave, muito mais grave... É a vez do Rebolation, “a dança do verão”, anunciam os noticíarios. Os manifestantes trocam as frases de protesto pelo festival de onomatopéias (Aê, aê, aê, aê. Ê, ê, ê, ê) dos refrões do que chamam de música baiana. Por aí, vai... Tira o pé do chão que o trio não pára, não pára, não pára, não.

Enfim, a intenção não é discutir o valor econômico-cultural da “maior festa popular do mundo”, o Carnaval de Salvador, embora este seja, sem dúvida alguma, um dos retratos mais fiéis da divisão de classes, da evolução das formas de exclusão social, aprimoradas desde a relação afável entre a casa grande e a senzala.

Há um outro contexto ainda mais favorável ao resgate do exceto de Linha de Passe, imortalizada na voz do extraordinário cantor e compositor mineiro, João Bosco, ao ilustrar de forma ainda mais lúcida como terminará o debate sobre as declarações insolentes do prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB).

Em entrevista ao ex-prefeito e radialista roufenho Mário Kértsz, na última segunda-feira (2), o prefeito tirou o braço da seringa e responsabilizou a população pelos principais problemas da capital.

Para JHC, a sujeira nas ruas, não passa de um problema de falta de educação dos soteropolitanos. “Agora no verão, na região do Farol e do Porto da Barra, a gente está fazendo de dez a 12 varrições por dia; o mesmo no Centro Histórico. Quer dizer, por mais que a gente limpe as pessoas não se cansam de jogar o lixo nas ruas. Há que se levar em conta também isso. Nós temos aí uma demanda infinita, é o tempo todo varrendo”, reclamou ele, aproveitando para criticar pichadores e vândalos.

Salvador é um canteiro de obras inacabadas, algumas até paralisadas, como o metrô, que completou sua primeira década de obra. Entre as únicas metrópoles brasileiras sem metrô, a cidade do maior carnaval do mundo possui cerca de 2.500 ônibus para transportar 40 milhões de passageiros, número suficiente segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageitros de Salvador (Leia mais sobre os dez anos de obra do metrô aqui, e sobre as novas denúncias de superfaturamento aqui).

Ainda assim, o peemidebista teve coragem de atribuir a culpa do trânsito caótico às revendedoras de automóveis, que, segundo ele, “despejam milhares de carros nas ruas baianas”, ao “vender veículos sem entrada e em 80 parcelas”.

A situação política local amarga ainda a ausência de uma imprensa crítica, de veículos informativos que questionem as ações dos personagens políticos, que transitam tranquilos mesmo após declarar tamanhas barbaridades.

O jornal A Tarde, o impresso mais vendido no estado, limitou-se a caracterizar o discurso do prefeito como uma bronca na população. Podemos chamar isso de cobertura jornalística? Do que que chamar isso?



Fonte:

Com informações do A Tarde Online e Vermelho.Org.

Leia mais:

De quem é a culpa das irregularidades na execução do Metrô de Salvador? Existe currupção e superfaturamento?

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