Por Humberto Carvalho Jr
O soldado Adilson Lima dos Santos, 39, há 19 anos na Polícia Militar, foi 26° policial morto em Salvador, neste ano. O soldado estava próximo a sua residência, na rua Ponte de Santo Antônio, no bairro do Jardim Cruzeiro, quando dois homens numa motocicleta o balearam com sete tiros na cabeça e no tórax, no fim de tarde da última quarta-feira (1°). Adilson chegou a ser levado ao Hospital Agenor Paiva, no Bonfim, mas não resistiu aos ferimentos.
Na periferia da capital baiana, todos os dias morrem jovens que, segundo a mídia e o discurso oficial (redundância?!), estavam envolvidas com o tráfico de drogas ou qualquer outra ação ilícita. A mídia parece não possuir suporte para realizar tal contagem. O número de mortes no estado aumentou consideravelmente: “50% a mais, em quatro cidades da Região Metropolitana de Salvador (RMS)”, segundo Carta aberta pela vida, entregue em julho ao Governador Jaques Wagner por organizações e movimentos da sociedade, em repúdio ao crescente número de jovens exterminados na Bahia, sobretudo em Salvador.
Na carta, as organizações e movimentos sociais clamam por novas políticas públicas de segurança que substitua o atual modelo, remanescente do período ditatorial e amplamente praticado durante os governos “carlistas”.
Por sinal, quadros que atuavam na coordenação da segurança no antigo governo foram mantidos, conforme afirma Hamilton Borges Walê, militante do Movimento Negro Unificado da Bahia, em entrevista ao website Ìrohìn, em 2007. Como exemplo, o militante cita o comandante geral da Polícia Militar, coronel Nilton Régis Mascarenhas, 57, oficial que comandou o massacre de Porto Seguro, na comemoração dos 500 anos.
À época, a decisão foi bastante criticada pela Associação Nacional dos Praças (Anaspra) por considerar o comandante “autoritário e carrasco”. Segundo o diretor da instituição, o soldado Marcos Prisco, o coronel Nilton Mascarenhas é campeão de reclamações na Anaspra.
O documento enviado ao governador critica, ainda, a morosidade do governo Jaques Wagner, que parece ignorar a urgência do assunto e suas reais causas. “Compreendemos que um governo novo, que tenha compromisso real com a construção de uma sociedade com bases democráticas, necessite de tempo para conhecer e colocar a máquina do Estado em funcionamento. Entretanto, preocupa-nos o ritmo com que as providências para estancar o ‘negrocídio’ nos bairros pobres do estado da Bahia vêm sendo adotadas”, afirma.
O envolvimento de policiais com o narcotráfico, entre outras atividades ilegais, não é e nunca foi segredo, exceto para a mídia, que se limita a reproduzir os discursos oficiais. Como a ‘apuração’, principal fundamento da atividade jornalística, foi extinta por um tácito pacto entre a polícia e jornalistas indolentes, noticia-se as mortes dos policiais apenas como um sinal do crescimento da violência no estado, solicitando mais repressão e assassinatos nos bairros pobres.
Como, obviamente, governo algum pretende combater as questões (sistêmicas) mais relacionadas ao crescimento da violência, os baianos terão de se contentar com a “sensação de segurança”, criada pela presença ostensiva de militares nas ruas. Nesta terça (7), a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-Ba) anunciou a redução 47% número de homicídios no bairro de Tancredo Neves, devido à intensificação da “Operação Pró-Vida”, agora com o reforço do programa “Ronda nos Bairros”, lançado recentemente pelo governo do Estado.
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