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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Para a Rede Globo racismo no Brasil é mito

Por Humberto Carvalho Jr.

Embora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) tenha divulgado, nesta terça-feira (19), uma pesquisa que revela grande desigualdade salarial entre negros e brancos, uma matéria veiculada no Jornal Nacional, no mesmo dia, afirma que o preconceito racial no Brasil não passa de um mito.

Segundo o vídeo, vivemos numa democracia invejável, onde negros, índios e brancos convivem na mais perfeita harmonia, versão facilmente desmentida pelos dados apresentados pelo IBGE. Conforme a pesquisa, um comparativo de março de 2003 a março deste ano, revelou que em questões de ocupação, escolaridade e rendimento, a renda média real dos negros e pardos foi de R$ 690,3 para R$ 847,7, enquanto que a dos brancos foi de R$ 1.443,3 para R$ 1.663,9.

A matéria apresentada no JN teve como objetivo mais direto, além de abafar (mais uma vez) a discussão sobre uma das mais perversas formas de preconceito ainda existente em nossa sociedade e suas conseqüências, pressionar o cancelamento do projeto do Estatuto da Igualdade Racial, que estava em votação na Câmara Federal. O resultado, ou seja, o cancelamento da votação do projeto foi comemorado, nesta quarta-feira (20), no website da emissora, Globo.com.

A grosseira repulsa da emissora em relação ao projeto torna-se mais evidente se forem analisadas as propostas que pretendem aumentar a participação de negros nos meios de comunicação. De acordo com o texto do projeto, os filmes e programas veiculados pelas emissoras de televisão deverão apresentar imagens de pessoas afrodescendentes em proporção mínima de 25% do número total de atores. No caso das peças publicitárias para televisão e salas de cinema esse patamar sobe para 40% do número de atores.

Cinco dias antes da veiculação de tal matéria no JN, o ministro Edson Santos (Igualdade Racial), Em evento de lançamento de ações afirmativas para negros, reagiu às declarações do general de exército Paulo César de Castro, que havia exaltado o golpe militar de 1964 e criticado as políticas de cotas raciais na educação (leia na íntegra aqui). “Ele [general Castro], um cidadão branco, disse que entrou no colégio militar sem precisar de cota. É evidente”, afirmou o ministro.

Baseada na mesma ideologia do general Castro e tantos outros remanescentes do regime militar brasileiro, o jornalismo “global” apenas cumpriu, maquiavelicamente (aqui no termo mais comum da palavra), com o seu dever diário de defender os interesses da classe dominante, e, sobretudo neste caso, os próprios.

Certamente, a desigualdade social e todas as suas conseqüências não deixaram de existir em nossa sociedade por intermédio de políticas públicas de inclusão social como as cotas raciais. No entanto, tais medidas mostram-se imprescindíveis devido ao seu caráter emergencial na reparação de séculos de injustiça social no Brasil, perpetradas pela minoria branca. Exatamente por isso, os grandes meios de comunicação e seus pupilos são contra tais medidas.

Considerando a delicadeza e complexidade do tema, sugiro a leitura da cartilha “Cotas raciais: por que sim?”, publicada em parceria pelo Ibase e Observatório da Cidadania (RJ), em 2006.

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