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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A culpa é dos pretos e pobres: o JN e a batalha contra as igualdades sociais

Por Humberto Carvalho Jr.

Abertamente contrário à política de cotas nas universidades federais, medida utilizada pelo governo Lula para tornar o acesso à educação superior menos desigual, o Jornal Nacional criticou novamente o programa (Leia Para a Rede Globo racismo no Brasil é mito, publicado aqui).

Porta voz da elite inconformada com as mudanças sociais, ainda que bastante frágeis, promovidas pelo atual governo, o principal noticiário da “vênus platinada” noticiou, na última sexta-feira (5), a insatisfação dos alunos de escolas particulares do recife com os resultados do vestibular da Universidade Federal de Sergipe.



“Estudantes de escolas particulares recorreram à Justiça para conseguir matrícula na Universidade Federal de Sergipe. Eles dizem que apesar de terem feito mais pontos no vestibular que alunos aprovados, ficaram de fora por causa do sistema de cotas”, anuncia a matéria a apresentadora Fátima Bernardes.

Somente duas declarações contrariam o que todo o conteúdo da matéria tenta provar: tudo por culpa dos pretos e pobres. As falas de Vanessa Santos Oliveira, aluna que obteve uma das vagas para cotistas, e do pró-reitor da Universidade Federal de Sergipe Sandro Holanda são incluídos apenas para manter a farsa da objetividade, da imparcialidade.

Note que, após o pró-reitor afirmar que trata-se de uma forma de corrigir as desigualdades do processo seletivo das universidades, a matéria é fechada com uma idéia de oposição.

“Mas para os estudantes da rede particular, a competição para os cursos concorridos, como engenharia e medicina, ficou ainda mais difícil. ‘Só são cem vagas e, das cem vagas, 50% ser para cotista. O que já era difícil agora é quase impossível’, disse a estudante Cecília Andrade.”

Em nenhum momento do processo de produção do material informativo (pauta, apuração, seleção e edição) o enquadramento foi esquecido. Um produto, desde a sua primeira fase, arquitetado para comunicar uma idéia (também ideologia) da forma mais eficaz possível. O vídeo induz o telespectador a aceitar como o sistema de cotas raciais é injusto.

Por que a notícia sobre a reinvindicação dos alunos brancos não foi nem será conxtextualizada? Simplesmente, porque não há interesse em fazer a população saber que afrodescendentes, índígenas e outros grupos incluídos no programa têm dificuldades para ingressar numa universidade por não ter as mesmas condições soócio-econômicas dos alunos brancos de escolas particulares. E mais, que os que ficam de fora representam maioria.

O tema merece maior reflexão, sim. Mas não pelo aspecto levantado pela grande imprensa, um dos setores mais conservadores da sociedade, sobretudo a nossa. Por isso, sugiro a leitura da cartilha “Cotas raciais: por que sim?”, publicada em parceria pelo Ibase e Observatório da Cidadania (RJ), em 2006.

Um comentário:

Unknown disse...

Ah!sou casca!! Humberto, olha eu aqui.. mas não resisti! Me diga: QUAL A RAÇA DA Vanessa Santos Oliveira?? ela é NEGRA??? PARDA? Posso te garantir que apesar de minha pele branca no melhor estilo escritório, tenho tantos ascendentes negros quanto ela! mas tive que ralar para entrar na faculdade...